quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

LÚPUS - TESTEMUNHO DE LUTAS E VITÓRIAS

Lupus... Um testemunho de lutas e vitórias

Tudo começou com dores por todo corpo. Depois inchaço nas articulações pela manhã e noite. Tinha 40 anos e engravidei, uma boa nova que durou pouco pois, com quase 4 meses abortei espontaneamente, sendo este o terceiro aborto.
Logo após comecei com uns "apagões" e fui parar no hospital com muita dificuldade em respirar, diagnóstico foi pericardite. Isso aconteceu umas três vezes até que o cardiologista chamou a atenção que investigasse o que inflamava o pericárdio já que o coração esrava normal.
Comecei também a ter problemas com o rins e várias infecções. Um belo dia de sexta feira, só consegui trabalhar pela manhã pois as dores estavam muito fortes e eu me sentia muito cansada. No domingo dei entrada na emergência com quase nenhum sinal vital. No final do dia fui pra UTI.
O lúpus atacou rins, pulmão, coração, sangue, a vida se esvaía. A Infecção generalizada e uma anemia que fez com que tomasse 9 transfusões de sangue, me condenavam a morte.
Com 15 dias de UTI, tiraram o entubamento  na tentativa de poder respirar só, não deu 12 horas me entubaram novamente... Saturação muito baixa. Eu realmente estava ficando sem chances. Com 28 dias na UTI, meus músculos atrofiaram, os pés roxos enrolavam, meus sinais vitais eram controlados por aparelhos  e, a cada noite, minha família pensava que seria a última.
Isso aconteceu em agosto de 2009, hospital São Domingos, São Luís, MA. Minhas duas filhas tinham 9 e 10 anos. Minha igreja orava e pedidos de orações cruzaram o mundo pois minha irmã era missionária na Espanha e apelou pra muitos missionários e pastores espalhados pelo mundo que orassem por minha cura.
Se Deus ouve oração? Não tenho dúvida alguma. Em coma a quase um mês eu sonhei... Estava mergulhada numa água escura de olhos fechados sem respirar... De repente vieram duas grandes mãos e me ergueram tirando-me da água, nessa hora acordei e respirei. Quando me vejo em pé e o homem que me tirou da água me dizia: "corre, há muito pra fazer em pouco tempo! "...eu corri, corri num campo lindo com flores, um muro grande adiante, via muitas pessoas conhecidas, o vento nos cabelos... Estava viva.
Com um mês em coma, acordei. Não sabia onde estava e o que tinha acontecido. Estava amarrada a uma cama de hospital... Literalmente amarrada. Não conseguia me mexer e nem falar pois estava com o tubo. Fui aos poucos reconhecendo o local era mesmo um hospital, meu irmão chegou para visita e começou a falar comigo e eu piscava, emitia grunidos e ele percebeu que eu tinha voltado. Só aí me desentubaram, desamarraram e comecei a tomar consciência do meu quadro.
UTI não é um lugar legal pra se estar, as pessoas estão graves lá. Não temos companhia de amigos. Visitas são em breves momentos. A dor esvai nos grunidos e gemidos constantes. As pessoas têm pavor lá. A morte anda por lá, tão fria e insensível. As máquinas não param e a frieza revela nossa nudez e a sensação de sermos um grande nada.
O tempo não passava ali. E um dia perguntei a Deus o por que de tanto sofrimento. Ele podia me curar ou me levar para junto de si... Só não queria estar ali. Deus então me disse, sim com a voz que escutamos lá dentro... "vou te tirar daqui, confere, cada dia um pequeno milagre". E foi isso que aconteceu.
Um dia meu milagre foi uma melhor saturação, outro a nora adrenalina baixou, e assim fui conferindo... Consegui falar, sentar, engolir, urinar, respirar, comer, ficar em pé, dar um passo... Até que tive alta da UTI, depois do quarto de hospital. Foi e ainda é um processo de pequenos milagres mas que juntos me deram vida.
Passei 1 ano pra andar novamente, mas hoje faço tudo... 10 anos se passaram e quero muito aproveitar o tempo que tenho, como no sonho, preciso ser rápida e correr.
Hoje vivo cada dia como se fosse o último. Uso tudo que compro. Não guardo nada pra dias especiais... Todo dia é especial. Uso o melhor talher, vo melhor prato, a melhor colcha de cama, a melhor toalha que tenho. Tudo tem que ser celebrado com alegria. Hoje depois de 10 anos o primeiro pensamento ao acordar é agradecer a Deus por estar respirando.
Vivo com um propósito de abençoar o máximo de pessoas que posso com o amor de Deus. Assim que consegui independência motora... Fundei um projeto com apoio escolar para crianças carentes. Amo estar com elas e considero ser um privilégio tê-las para amar e cuidar.
O lúpus me fortaleceu... Não o venci, mas luto todo dia contra ele. A força vem do Senhor, sem Deus não conseguiria nada. Hoje além do lúpus, vieram a fibromiaugia e esclerose sistêmica. Mesmo assim luto aguerridamente.

SILVANA MACHADO