A pedagogia da dor
Referência:
João 11.1-57
INTRODUÇÃO
1.Este é
o último grande milagre público de Jesus. Foi realizado na última semana de
Jesus antes de ser preso e morto na cruz.
2.Este
milagre tem várias lições importantes:
a) As
crises são inevitáveis – Lázaro mesmo sendo amigo de Jesus ficou doente.
b) As
crises podem aumentar – Lázaro piorou e chegou a morrer.
c) Quando
a enfermidade e o luto chegam em nossa casa, ficamos profundamente angustiados
– Nessas horas nossa dor aumenta, pois nossa expectativa era de receber um
milagre e ele não chega. Como os discípulos de Emaús começamos a conjugar os
verbos da vida apenas no passado: “Nós esperávamos que fosse ele quem redimisse
a Israel, mas…” (Lc 24:21).
3.Este
texto nos fala da pedagogia de Jesus na realização deste grande milagre.
I.O TEMPO DO MILAGRE
1. O AMOR
DE JESUS POR NÓS NÃO IMPEDE QUE SOFRAMOS– v. 3
A família
de Betânia era amada por Jesus – Ele amava a Marta, Maria e Lázaro, mas mesmo
assim, Lázaro ficou enfermo. Se Jesus amava a Lázaro por que permitiu que ele
ficasse doente? Por que permitiu que suas irmãs sofressem? Por que permitiu que
o próprio Lázaro morresse? Aqui está o grande mistério do amor e do sofrimento.
Marta e
Maria fizeram a coisa certa na hora da aflição – Buscaram ajuda em Jesus. Elas
sabiam que Jesus mudaria a agenda e as atenderia sem demora.
Elas
buscaram ajuda na base certa – o amor de Jesus por Lázaro e não o amor de
Lázaro por Jesus. Quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada. Hoje dizemos:
Jesus, aquele a quem amas está com câncer. Jesus, aquele a quem amas está se
divorciando? Jesus, aquele a quem amas está desempregado.
Por que Jesus
não curou Lázaro à distância – Jesus poderia ter impedido que Lázaro ficasse
doente e podia também curá-lo à distância. Ele já havia curado o filho do
oficial do rei à distância. Por que não curou seu amigo a quem amava? A atitude
de Jesus parece contradizer o seu amor.
(v. 37) – Eles pensaram que amor e sofrimento
não podiam andar juntos.
Se Jesus
nos ama, por que sofremos? – Se Jesus nos ama, por que passamos pela aflição.
Se ele é todo-poderoso, por que não nos livra do sofrimento? Por que um filho
de Deus fica doente, perde o emprego, enfrenta o luto?
SEM IMUNIDADES ESPECIAIS – O Pai
amava o Filho, mas permitiu que ele bebesse o cálice do sofrimento e morresse
na cruz em nosso lugar. O fato de Jesus nos amar não nos torna filhos
prediletos. O amor de Jesus não nos garante imunidade especial contra
tragédias, mágoas e dores. Ilustração: Nenhuma dos discípulos teve morte
natural, exceto João, e ele morreu exilado em uma ilha solitária. Jesus não
protemeu imunidade especial, mas imanência especial. Ele nunca prometeu uma
explicação, prometeu ele próprio, aquele que tem todas as explicações.
2. NÃO É
A NOSSA NECESSIDADE QUE FAZ DEUS AGIR, MAS ELE AGE SEGUNDO A SUA VONTADE– v.
6,39
Ao invés
de mudar sua agenda para socorrer Lázaro, Jesus ficou ainda mais dois dias onde
estava. Em vez de ir, manda apenas um recado: “Esta enfermidade não é para a
morte, mas para a glória de Deus”, mas Lázaro morreu.
Marta
precisou lidar não apenas com a doença do irmão, mas também com a demora de
Jesus. Por que ele não veio? Será que ele virá? Será que ele nos ama mesmo?
Muitos passaram a censurar a demora de Jesus.
Marta
oscilou entre a fé e a lógica. Pois como entender as palavras de Jesus: “Esta
enfermidade não é para a morte, mas para a glória de Deus” se quando o
mensageiro a entregou a Jesus, Lázaro já havia morrido? Ela duvidou. Ela se
angustiou.
A demora
de Jesus a deixou frustrada, quase decepcionada (v. 21).
Muitas
vezes, Jesus parece demorar:
a) Deus
prometeu um filho a Abraão e Sara – Só depois de 25 anos cumpriu a promessa.
b) A
tempestade no mar – só na quarta vigília da noite, foi ao encontro dos
discípulos.
c)Jairo
vai pedir socorro a Jesus – quando Jesus chega sua filha já estava morta.
d)A fé de
Marta passa por 3 provas: 1) A ausência de Jesus (v. 3); 2) A demora de Jesus
(v. 21); 3) A morte de Lázaro (v. 39).
3. NOSSO
TEMPO NÃO É O TEMPO DE DEUS Como conciliar o nosso tempo (cronos), com o tempo
de Jesus (kairós) – v. 6
A
distância entre Betânia e onde Jesus estava dava mais de 32 Km. Levava um dia
de viagem. O mensageiro gastou um dia para chegar a Jesus. Logo ao sair de
Betânia Lázaro morreu. Quando deu a notícia a Jesus, Lázaro já estava morto.
Jesus demora mais dois dias. E gasta outro dia para chegar. Daí quando chegou,
Lázaro já estava sepultado há quatro dias.
Jesus se
alegrou por não estar em Betânia antes da morte de Lázaro (v. 15). Ele deu
graças ao Pai por isso (v. 41b). Jesus sempre agiu de acordo com a agenda do
Pai (2:4; 7:6,8,30; 8:20; 12:23; 13:1; 17:1).
Ele sabe
a hora certa de agir. Ele age segundo o cronograma do céu e não segundo a nossa
agenda. Ele age no tempo do Pai e não segundo a nossa pressa. Quando ele parece
demorar, está fazendo algo maior e melhor para nós.
Marta e
Maria pensaram que Jesus tinha chegado atrasado, mas ele chegou na hora certa,
no tempo oportuno de Deus (v. 21,32).
Jesus não
chega atrasado. Ele não falha. Ele não é colhido de surpresa. Ele conhece o fim
desde o princípio, o amanhã desde o ontem. Ele enxerga o futuro desde o
passado. Ele sabia que Lázaro estava doente e que Lázaro já estava morto. Ele
demorou mais dois dias porque sabia o que ia fazer.
II. O MILAGRE VEM NA DOR
1.Jesus
não está preso às categorias do nosso tempo – v. 22-25 O TEMPO DE DEUS É AGORA
Marta crê
no Jesus que poderia ter evitado a morte (v. 21)- PASSADO.
Marta crê
no Jesus que ressuscitará os mortos no último dia (v. 23-24) – FUTURO.
Mas Marta
não crê que Jesus possa fazer um milagre AGORA. Marta vacila entre a FÉ (v. 22)
e a lógica (v. 24).
Somos
assim também. Não temos dúvida que Jesus realizou prodígios no passado. Não
temos dúvida de crer que ele fará coisas tremendas no fim do mundo. Mas nossa
dificuldade é crer que ele opera ainda hoje com o mesmo poder.
Talvez
essa é a sua angústia – Você tem orado pelo seu casamento e o vê mais perto da
dissolução. Você tem orado pela conversão do seu cônjuge e o vê mais endurecido.
Você tem orado pelos seus filhos e eles continuam mais distantes de Deus. Você
tem orado pelo seu emprego e ele ainda não surgiu. Você tem orado pela sua vida
emocional e ainda ela parece um deserto.
Ah se
tudo fosse diferente – Passado e Futuro – O grande erro do “Ah se fosse
diferente” das duas irmãs, foi omitir o poder presente do Cristo vivo. Marta
vivia ou no passado ou no futuro. Mas é no presente que o tempo toca a
eternidade. Não podemos viver de lembranças que já passaram nem apenas das promessas
que ainda são futuro. Precisamos crer hoje. Jesus não é o grande EU ERA nem o
grande EU SEREI. Ele é o grande EU SOU. Nesse evangelho ele diz: 1) “Eu sou o
pão da vida” (6:35); 2) “Eu sou a luz do mundo” (8:12); 3) “Eu sou a porta”
(10:9); 4) “Eu sou o bom pastor” (10:11); 5) “Eu sou a ressurreição e a vida”
(11:25); 6) “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (14:6); 7) “Eu sou a videira
verdadeira” (15:1).
2.Jesus
se identifica com a nossa dor – v. 35
A)Aquele
que cura as nossas chagas é ferido conosco JESUS SOFRIA COM A SITUAÇÃO TAMBEM
As
lágrimas de Jesus revelam sua humanidade, sua compaixão, seu amor (v. 36).
Jesus se importa com você e com sua dor.
Ele é o
Deus Emanuel. Ele chora com você. Ele sofre por você. Ele se importa com você.
Ele se identifica com você. Ele é o Deus que chora, que sofre, que ENTENDE Aa nossa dor.
a)Jesus
sabe o que é a dor do sem teto – pois ele não tinha onde reclinar a cabeça.
Jesus sabe o que é dor da pobreza. Ele conhecia a linguagem dolorida do salário
mínimo.
b)Jesus
sabe o que é a dor da solidão – nas horas mais difíceis ele estava só. Foi
deixado só no Getsêmani e na cruz.
c)Jesus
sabe o que é a dor da perseguição – Foi caçado por Herodes, vigiado pelos
fariseus, odiado pelos escribas e entregue pelos sacerdotes.
d)Jesus
sabe o que é a dor da traição – traído pela multidão que o aplaudiu. Traído por
Judas, negado por Pedro, abandonado pelos discípulos.
e)Jesus
sabe o que é a dor da humilhação – Foi preso, espancado, cuspido, deixado nu,
pregado na cruz como criminoso.
f)Jesus
sabe o que é a dor da enfermidade – Ele tomou sobre si a nossa dor e a nossa
enfermidade.
g)Jesus
sabe o que é a dor da morte – Ele suportou a morte arrancar o aguilhão da morte
e nos trazer a ressurreição.
2.Jesus
não exclui a participação humana em face da sua intervenção milagrosa – v.
39,40,44 NA SITUAÇÃO MAIS DIFÍCIL SEMPRE HÁ ALGO QUE POSSAMOS FAZER
A)Tirai a pedra – Só Jesus tem o poder para
ressuscitar um morto. Isso ele faz. Mas tirar a pedra e desatar o homem que
está enfaixado, isso as pessoas podem fazer e ele as ordena que façam.
Jesus
chama a Lázaro da sepultura. Se Jesus não tivesse mencionado o nome de Lázaro,
todos os mortos sairiam do túmulo.
Mas,
Lázaro mesmo morto pôde ouvir a voz de Jesus. No dia final, na segunda vinda de
Cristo, os mortos também ouvirão a sua voz e sairão do túmulo (Jo 5:28-29).
Senhor,
já cheira mal – Tirar a pedra significa enfrentar uma situação que não queremos
mais mexer. É tocar em situação que só vai nos trazer mais dor. É abrir a porta
para algo que já cheira mal. Temos medo de enfrentar o nosso passado de dor.
Quando
tiramos a pedra e olhamos para dentro do túmulo, Jesus olha para cima e ora (v.
41) – Ao enfrentar o mau cheiro de um túmulo aberto Jesus orou. Jesus deu graças. Ilustração: Lia era desprezada
por seu marido (Gn 29:31-35).
B) Desatai-o e deixai-o ir – Lázaro
agora estava vivo, mas com vestes mortuárias. Seus pés, suas mãos e seu rosto
estavam enfaixados. Precisamos nos despir das vestes da velha vida. Precisamos
nos revestir das roupagens do novo homem. Precisamos ajudar uns aos outros a
remover as ataduras que nos prendem. Precisamos ajudar uns aos outros a remover
as ataduras do passado. Somos uma comunidade
de cura, e restauração. Precisamos começar esse processo em primeiro lugar em
nosso lar. Há ataduras que nos prendem ao passado: hábitos, pecados, vícios,
costumes que nos limitam e tiram a nossa liberdade e a nossa ação. Soltem os
seus filhos, deixem que eles cresçam. Há tempo de atar e tempo de desatar.
C)Se creres, verás – Jesus quer não
apenas que encontremos a solução, mas que nos tornemos a solução. Em vez de
duvidar, de questionar, de lamentar, Marta deveria crer. A porta do milagre é
aberta com a chave da fé.
III. O PROPÓSITO PARA A DOR
1.A
glória de Deus – v. 4
Tudo que
Jesus ensinou e fez foi para a glória de Deus. A glória do Pai era o seu maior
projeto de vida. Ele veio revelar o Pai. Ele veio para mostrar como é o coração
de Deus. Ele nunca fugiu desse ideal.
A morte
de Lázaro era uma oportunidade para que o Pai fosse glorificado. A ressurreição
de um morto é um milagre maior do que a cura de enfermo. A ressurreição de um
morto de quatro dias é maior do que a ressurreição de alguém que acabou de
morrer.
A coisa
mais importante em nossa vida não é sermos poupados dos problemas, mas
glorificarmos a Deus em tudo o que somos e fazemos.
Quando
somos confrontados pela doença, desapontamento, demora e mesmo pela morte,
nosso único encorajamento é saber que vivemos pela fé e não pelo que vemos.
Salmo 50:15: “Invoca-me no dia da angústia, eu livrarei e tu me glorificarás”.
2.O
despertamento da fé – v. 15,42,45
O milagre
não é um fim em si mesmo – Ele tem o propósito de abrir portas para a fé
salvadora e avenidas para uma confiança maior em Deus. Os milagres de Cristo
sempre tiveram um propósito pedagógico de revelar verdades espirituais.
a)Quando
ele multiplicou os pães, queria ensinar que ele era o Pão da Vida.
b)Quando
curou o cego de nascença, queria ensinar que ele era a Luz do Mundo.
c)Quando
ressuscitou Lázaro, queria ensinar que ele é a ressurreição e a vida.
1)Jesus
tinha o propósito de fortalecer a fé de seus discípulos (v. 15).
2)Jesus
tinha o propósito de que Marta cresse, antes de ver a glória de Deus (v.
26,40).
3)Jesus
tinha o propósito de despertar fé salvadora nos judeus que estavam presentes
junto ao túmulo de Lázaro (v. 42).
4)Jesus
tinha o propósito proclamar que a vida futura só pode ser alcançada pela fé
nele e que a morte não tem a última palavra para aqueles que nele crêem (v.
25-26).
3.A morte
de Jesus – v. 8,16,25,26,46-57
O clima
era de grande tensão – Na última aparição de Jesus na Judéia, os judeus queriam
apedrejá-lo (Jo 10:38-42; v. 8). Tomé entende que a ida de Jesus a Jerusalém
era caminhar para a própria morte (v. 16). Todos sabem do risco que Jesus corre
na Judéia. Marta vai encontrar Jesus fora de casa (v. 20). Marta vai chamar
Maria em secreto (v. 28). Havia uma orquestração nos bastidores para levá-lo à
morte.
Quando
Jesus ressuscitou Lázaro, muitos judeus creram nele (v. 45). Outros, porém,
saíram para entregá-lo (v. 46-48,53,57). Os judeus resolveram matar não apenas
a Jesus, mas também a Lázaro (12:9-11).
Quando
Jesus foi ao lar de Betânia estava disposto a gloficar o Pai em dois aspectos:
primeiro, pelo milagre da ressurreição de Lázaro e segundo pela sua disposição
de cumprir o plano do Pai de dar a sua vida em resgate do seu povo (Jo 17:1).
Os
membros do sinédrio pensaram que eles é que estavam no controle da situação,
orquestrando a prisão de Jesus. Mas isso fazia parte do plano de Deus. A morte
de Cristo não era um acidente, mas um apontamento do Pai (At 2:23).
CONCLUSÃO
– APRENDAMOS COM A VIDA E MORTE DE LÁZARO
Nenhum comentário:
Postar um comentário